terça-feira, 17 de abril de 2007

Seu Chico

Estou vendo o Sergio Chapellin agora na televisão e me lembrando de meu pai: o Sérgio tem uma fazenda em Itamonte, e vai muito em Pouso Alto e São Sebastião do Rio Verde, ver amigos, fazer negócios...Meu pai tinha em São Sebastião uma casa espetacular, na praça, mas uma verdadeira casa de fazenda, e essa casa tinha o nome de “Casa da Dinda”, inclusive com placas, porque lá moraram meus bisavós, meus avós e finalmente minha tia avó, a Dinda. Pois bem, um dia de manhã meu pai acordou, tomou café e foi bater um papo com o Juca, na esquina. Lá encontrou o Sérgio Chapellin, que ele nunca tinha visto pessoalmente, o abraçou como se fossem velhos amigos e o levou para conhecer a “Casa da Dinda”, em plena época Collor. E o Sérgio brincou : Casa da Dinda? Tem certeza que é seguro ir lá? Acontece que para meu pai o Sérgio era mesmo um velho amigo, pois estava lá em casa toda noite, no “Jornal Nacional”. E acabaram ficando mesmo amigos.
O papai tinha umas boas tiradas: quando começamos com a unimed em Itajubá, fazíamos restrição nas consultas. Era aquela história: atendíamos 3-4 por dia, deixando as demais vagas para os particulares. E o papai queria que eu atendesse todos os seus amigos, o mais rapidamente possível. Quando eu lhe dizia que não dava, ele me perguntava: — Então pra que serve essa merda de unimed? Pagar para que, se meus amigos não podem ser atendidos? E ele tinha razão, tanto que depois entramos em um consenso e proibimos definitivamente que houvesse distinção entre particular e unimed e mesmo que isso fosse perguntado na marcação das consultas. Meu pai enxergou longe como deveria ser a unimed Itajubá, ou seja, como ela é hoje.
Uma vez estávamos em Alfenas, na formatura do Sérgio, meu irmão, em um cafezinho. E ele derrubou café em seu terno branco, de linho. Sem a menor cerimônia, pegou seu lenço, molhou na água quente que iria servir para fazer mais café e limpou a mancha. Sem a menor cerimônia. Minha mãe ficou doida de brava com ele. Que não deu a mínima...
E um dia em que ele estava na Óptica São Lourenço que na época era sua e foi para casa, ali na João Antonio Pereira, em frente ao portão do edifício dos bancários. Foi a pé, como sempre fazia, entrou em casa, encontrou-se com um cara, o cumprimentou e foi para a cozinha. Tudo bem, achou que era o marido de uma empregada nova de casa, mas era um ladrão, que havia roubado todas as jóias de minha mãe. E ainda foi alegremente cumprimentado.
Meu pai um dia começou com uma diabetes. Leve, mas ele detestava fazer regime, e não fazia mesmo. E topava fazer qualquer tratamento alternativo. Um dia cheguei em casa, deitei-me com ele em sua cama, começamos a conversar e vi um pedaço de cana encostado na parede, na cabeceira. Perguntei o que era aquilo, e ele: — Esse é um pé de cana. É ótimo para curar diabetes. Deixei aí, e quando a cana secar, a diabetes sara! E acreditava mesmo nisso. Sei lá se acreditava. O que ele não queria é largar de seu docinho, de sua costelinha de porco...
É estranho como a perda de nossos pais, nossas mães, marca a gente. A cada dia que passa tenho mais saudades deles. A mamãe partiu recentemente, e ainda hoje muita gente pergunta como ela está, mas o papai se foi há 13 anos, para mim no pior dia do ano. Pior acho agora porque ele morreu nesse dia, e antigamente, desde criança, porque era o dia em que terminavam as férias, dia 31 de julho.
Mas ele está comigo. Eu o sinto a cada dia, a cada minuto, não sei se porque se aproxima a hora de nos encontrarmos ou porque ele está mesmo por aqui. A mamãe sinto menos, talvez por ela ter partido há pouco tempo e ainda não está completamente liberada para chegar a nós. Mas já, já ela estará por aqui também.
Obrigado, meu Deus, por ter me dado os pais que tenho! Muito mais do que eu já mereci. Na verdade Ele me deu muito. Além dos pais, os irmãos e principalmente minha mulher e meus filhos queridos. Existe riqueza maior que essa?

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